📌 A Distância Entre o Cristianismo e o Evangelho Puro e Simples
Ao longo da história, o que se conhece como “Cristianismo” distanciou-se profundamente do Evangelho puro e simples ensinado por Jesus de Nazaré. Essa ruptura torna-se evidente quando analisamos a construção histórica da religião cristã sob a ótica crítica, especialmente pela perspectiva do colonizador.
O pensador Tzvetan Todorov, em sua obra A Conquista da América: a questão do outro (1982), demonstra como o Cristianismo foi utilizado como ferramenta de dominação cultural e política durante o processo colonial. A cruz foi símbolo de aculturação, usada para catequizar povos originários, enquanto a espada representava a imposição bélica e a aniquilação física de culturas consideradas inferiores. A evangelização foi, em muitos contextos, menos uma transmissão da mensagem de Cristo e mais um processo de imposição da visão de mundo eurocêntrica e civilizatória dos conquistadores (TODOROV, 1982).
Esse Cristianismo expansionista contrasta radicalmente com o Evangelho vivido por Jesus. Jesus não fundou uma religião institucional, tampouco uma igreja com hierarquias, templos ou códigos dogmáticos. O que Ele instituiu foram relacionamentos, comunidades vivas e orgânicas, guiadas pelo amor, pela justiça e pela presença do Espírito Santo. Seus discípulos também não criaram religiões institucionalizadas, mas caminharam em comunhão, compartilhando tudo em simplicidade e liberdade (Atos 2:42-47).
No entanto, no século IV, o imperador romano Constantino transforma o Cristianismo em religião oficial do Império, distorcendo sua essência ao associá-lo ao poder político. Nesse momento, o que era uma vivência espiritual passa a ser um projeto institucional e imperial, focado em controle, uniformização e expansão territorial. A chamada "igreja cristã" torna-se, em muitos sentidos, uma ferramenta ideológica de dominação colonial.
Ao longo dos séculos, o Cristianismo institucional protagonizou práticas antagônicas aos ensinamentos de Jesus: perseguições religiosas, tribunais da Inquisição, censura intelectual, guerras santas, cruzadas e missões de catequização forçada. A conquista da África, Ásia e América foi feita sob o pretexto da fé, mas marcada por violência, genocídios e imposições culturais travestidas de evangelização.
Portanto, é legítimo afirmar que o Cristianismo, enquanto sistema religioso e político, é uma doutrina humana, e não divina. Seu histórico está profundamente associado a estratégias de dominação e exclusão, e não aos princípios do Evangelho que valoriza o amor, a inclusão, o perdão e a vida comunitária. O Evangelho de Jesus nunca se aliou à busca por poder, riqueza ou supremacia.
Hoje, os ecos dessa estrutura ainda estão presentes: discursos políticos e religiosos torcidos, alianças entre fé e poder econômico, manipulação das massas, tudo sob a bandeira de uma fé que, na prática, contradiz o Cristo que dizem seguir.
Conclusão
A distância entre o Cristianismo institucionalizado e o Evangelho puro e simples revela uma profunda distorção entre a mensagem de Jesus e a história construída em seu nome. Enquanto o Evangelho convida à vida simples, comunitária e centrada no amor e na justiça, o Cristianismo, em muitos momentos, serviu como ferramenta de poder, dominação e exclusão. Recuperar a essência do Evangelho é um chamado à autenticidade da fé, à liberdade espiritual e à prática de um amor que não se impõe, mas transforma.
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Fonte: https://ahistoriapresente.blogspot.com/2014/02/america-em-tempos-de-conquistas.html (acesso em 22/06/2025 as 10:49) |
📚 Referências Bibliográficas
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TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América: a questão do outro. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
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A BÍBLIA. Tradução King James Atualizada. São Paulo: BV Books, 2013. (Citações do Evangelho de Atos e dos ensinos de Jesus)
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